11 outubro 2007

Recém-mamã: L

Prometido é devido e cá está o post que vai explicar a minha recente falta de tempo para tudo! Demorou algum tempo porque... tempo é exactamente o que me falta e porque queria autorização dos intervenientes para publicar o post. Pois, para variar não é sobre mim!

Trabalho, como sabem numa pequena empresa. Somos três no escritório: o chefe, eu e a L que foi contratada, estava eu gravidérrima, para me substituir na minha licença de maternidade.
A sua capacidade de organização vai muito além do escritório, ela organiza e planeia tudo desde o trabalho, à casa e até a vidinha. Só que a vidinha trocou-lhe as voltas e baralhou-lhe os planos tão bem feitos e pensados: A L não conseguia engravidar. Apesar dos seus 24 anos (na altura), apesar de ser saudável, apesar de o marido também não ter quaisquer problemas a cegonha teimava em não chegar.
Três anos passados e a nossa amizade consolidada, a L contou-me finalmente o seu grande segredo. Alguns problemas foram descobertos e a infertilidade (palavra horrorosa!) teria que ser "atacada" de outra forma. FIVs. Pelo que eu percebi, uma FIV é uma Fertilização In Vitro e só é feita depois de várias outras hipóteses esgotadas, como por exemplo a inseminação artificial.
Três anos a tentar ser mãe, a ter aquele desejo ardente de ter o seu bebé, a sonhar com o dia em que veria dois risquinhos no teste, a sofrer de alegria e tristeza misturadas quando alguém próximo anunciava uma gravidez. Três anos em que ela viu o meu menino crescer de perto, acompanhou aquele momento em que também eu perdi a mana dele, assistiu à minha alegria ao contar aqueles momentos especiais entre mãe e filho e sofreu em silêncio. A L insistia em não contar a ninguém o seu problema, é uma pessoa reservada apesar de alegre e tagarela... (:P pa ti L!) E de qualquer forma é difícil para alguém compreender a magnitude de sentimentos que arrasam quem passa por este tipo de problemas se não os viver também. Por isso, a L obteve o apoio que necessitava entre as e os mebros de um site: o da API - Associação Portuguesa de Infertilidade. Visitei pela primeira vez o forum da API há poucos dias e sabem que mais? Fez-me lembrar o do BC quando entrei. A disponibilidade e a generosidade das pessoas está lá, salta à vista que sofrem mas fazem-no ajudando outros e disponibilizando-se de alma e coração. Foi emocionante para mim que, já sabem, sou uma piegas e só de pensar nisso fico com os olhos rasos de água!
Três anos volvidos e a cegonha finalmente chegou! A L esteve "grávida de coração" e já é mãe. Tudo isto num espaço de menos de um mês! Pronto, agora é que eu baralhei tudo! LOL
A cegonha chegou na forma de um telefonema da Segurança Social e de uma voz que disse "temos uma criança para si".

Esta é a história dela, contada pelas suas próprias palavras no site da API, e que ela me autorizou a transcrever para aqui:


"Olá, miguinhas!

Desculpem-me a falta de respostas, mas no trabalho ando a ter umas aulas intensivas de puericultura com a minha colega e em casa ando em pinturas e arrumações para receber o meu pimpolho.
Ora bem, vou tentar responder a todas as perguntas, perdoem-me se me escapar alguma coisa.
Em Setembro de 2005 descobri que uma amiga minha, que andava a fazer Fivs sem sucesso à 8 anos, tinha adoptado um menino de 4 meses dps de uma espera de 4 anos.
Na altura eu já sofria de infertilidade à um ano e meio, e vê-la ali tão feliz, agarrada ao menino tão pequenino, tão bonito, despertou-me a minha vontade de adoptar.
Uma vontade que não começou nesse dia, mas há muitos e muitos anos atrás, quando eu era pequenina, não me lembro se tinha dez ou onze anos e via nos noticiários que as pessoas abandonavam os bebés nos caixotes do lixo, eu sempre que ia para a escola levava o caminho todo a espreitar os caixotes do lixo para ver senão haveria lá um bébézinho que eu pudesse ficar com ele.
Ora, o quê que eu pensei sofrendo de infertilidade e vendo a minha amiga tão feliz com o menino dela: Vou adoptar! Quem sabe não será essa a minha sina, não dizem que vimos ao mundo com um propósito, quem sabe não é este o meu destino.
Levei um ano a digerir esta ideia enquanto ia fazendo ttt, sempre negativos, e em Junho de 2006 decidi que ia seguir com o processo para a frente.
Fui ao site da Segurança Social, imprimi os impressos de adopção e lista de documentos necessários e liguei para a Segurança Social de Faro a marcar uma entrevista.
Como eu não queria faltar mais ao trabalho e como elas estavam de férias em Agosto, a 1ª entrevista viria a realizar-se no final de Setembro.
Tive 3 meses para preparar toda a documentação, sofri muito com as perguntas do questionário, tive muitas vezes para desistir do processo, mas uma força interior, que eu não sei explicar de onde, surgia e ia-me empurrando para a frente.
Quando fomos à primeira entrevista já levávamos os questionários preenchidos e toda a documentação necessária, a sra. que nos atendeu, ficou muito espantada por já levarmos tudo, porque naquela primeira entrevista é que eles dão os questionários e a lista com a documentação necessária. Ora eu assim acabei por poupar 3 meses no processo, porque o tempo só começa a contar quando se entrega tudo.
Disse-nos que o tempo de selecção demora 6 meses, mas que elas estavam a levar mais um bocadinho.
Digo-vos uma coisa saí daquela entrevista com vontade de desistir, porque a sra. foi muito dura connosco, disse-nos que os bebés para adoptar são maioritariamente filhos de toxicodependentes ou vítimas de violência domésticas e nós saímos de lá muito traumatizados, sei que no dia seguinte bati com o carro no passeio e rebentei com o pneu, num sítio onde eu passava há dois anos diariamente e sem problemas, tal era a minha desorientação. O meu marido até queria desistir porque estávamos os dois muito traumatizados, até acabou por me confessar que tinha partido o espelho de um carro porque também estava distraído.
Bem, o tempo passou e em Março de 2007 fomos chamados para irmos à 2ª entrevista com a psicóloga e a Assistente Pessoal, também elas muito duras connosco, com os porquês e dúvidas em relação à nossa decisão e ttt, enfim coisas normais para elas, mas para quem está fragilizado e ainda por cima a sentir-se avaliado pela psicóloga que não só interpreta as nossas palavras como também os nossos gestos, é muito complicado.
Nós escolhemos uma criança até aos 2 anos, menino ou menina e que fosse branquinho e saudável. Disseram-nos logo que era muito difícil, e aconselharam-nos a alargar a idade, mas nós como estávamos em ttt, decidimos deixar assim pelo menos 4 ou 5 anos e até lá não engravidasse e não aparecesse nenhuma criança, aí sim alargávamos até aos 3 anos.
Saí de lá tal como tinha saído da 1ª entrevista, tal como se tivesse sido atropelada por um camião.
Duas semanas depois, já em Abril, na 2ª a seguir à Páscoa, as Dras. foram lá a casa. Bem, levei o fim-de-semana a puxar o lustro à casa, para nada. Mal entraram lá em casa, muito simpáticas, ficaram encantadas com o espaço que tinhamos e nem entraram nos quartos, ficaram-se pelo corredor e depois sentámo-nos na sala a conversar um pouquinho. Mas muito simpáticas, pareciam nossas amigas, muito muito mais divertidas e amistosas.
Bem, 2 ou 3 semanas depois recebemos o certificado a dizer que tínhamos sido aceites como candidatos a adoptantes.
E depois, o resto vocês já sabem, telefonema a 11 de Setembro que a partir de agora vai ter outro significado para mim, já não é o dia que atacaram a América, mas o dia que a cegonha me telefonou!
No dia 12 tivemos uma reunião com elas e ficámos a saber que o nosso bébé é um menino (...) e tem 9 mesinhos. Agora temos que ir para o refúgio diariamente durante uma semana aprender a cuidar dele e a conhecer os hábitos que ele já adquiriu e depois nos fim de semana seguinte trazêmo-lo para casa.
Estava marcado para a próxima semana, mas como a minha colega vai de férias e ela já desde Dezembro que não tem férias e adiou as férias de Julho para eu fazer a minha inseminação; e na semana seguinte o refúgio já está ocupado, porque eles só fazem uma adaptação a um casal por semana; ficou marcado para dia 2 de Outubro.
Estou muito, muito feliz, os dentes nem me cabem na boca! hihihihihi
Mas estou a contar os dias. Agora só faltam 18 dias para eu conhecer o meu menino.
Muito obrigada a todas pelo apoio que me têm dado, perdoem-me se não respondi a todas as mensagens privadas, mas ando mesmo muito ocupada.
Afinal de contas só tenho quinze dias de gravidez e tenho que pintar e arrumar o quarto, comprar todas as coisitas que ele precisa e ainda tenho que aprender a tratar de um menino de 9 meses.
Trabalho de manhã há noite, mas não reclamo, é por um causa muito nobre, a melhor causa da minha vida. E assim o tempo também passa mais depressa.
Muitos beijinhos a todas."

Assim se sabe porque é que este ano eu tenho só uma semana de férias, assim se sabe porque não me importo nada com isso e assim se sabe porque é que eu não tenho tempo para nada. É que... L, TU FAZES MUITA FALTA LÁ NO ESCRITÓRIO, RAPARIGA!!! Isto de tentar recuperar o trabalho que não fiz nas férias e fazer o teu quando o chefe resolve ausentar-se dias inteiros tem mais que se lhe diga!
Ando cansada e chego ao fim do dia sem energia para muito mais. Quer dizer, muito mais que não seja lidar com o pequeno Furacão Bé e o grande Furacão Pai! Não há blogs, não há livros, não há missangas, não há pondo cruz, não há swarovski que me mantenha acordada mais tempo que o necessário! O meu único hobbie é adormecer em frente à televisão! Já nem acompanho séries nenhumas porque nem me lembro do que via antes! Mas... Vá-se lá olhar para aquelas carinhas felizes e dizer que não vale a pena! Claro que vale!!!

Esta é a minha pequena homenagem à L, à sua coragem e força, à sua vontade de amar, à sua perseverança, à sua vontade férrea... Estou feliz por ti, Amiga, mais feliz só se fosse meu! LOL
Há coisas inexplicáveis! Tudo se encaixa no tempo certo e fico feliz por te dar todo o apoio que precisares. Tu sabes o que quero dizer...

1 comentário:

Dina disse...

Desculpa...mas vim aqui parar e por incrivel que pareça tive o grato prazer de conhecer a L.
Fiquei muito feliz por ela, e sei que tem um imenso amor pra dar. É uma pessoa querida embora nos conheçamos á pouco tempo. Fiquei feliz ao ler as tuas palavras - ela merce-o sem duvida. E a nossa API tem feito maravilhas por todas nós. Obrigado por essas palavras tambem.