14 maio 2007

Desesperadamente procurando... Paulinha!

Já lá vão muitos anos, amiga, mas as verdadeiras amizades nunca se esquecem. Nunca te esqueço, apesar de não te ver há mais de 10 anos!
Começando pelo princípio... Devíamos ter, quê?... Treze, catorze anos quando nos tornámos inseparáveis? Andávamos na Escola Secundária do Forte da Casa e fizemos o 9º ano duas vezes juntas. Namoravas o Ricardo, lembras-te? O eterno Ricardo... E eu o... e o... Ah! Claro, e o Nelson, o escorpião. O Ricardo não tinha força para ti, limitava-se a deixar-se arrastar pela corrente da tua energia vulcânica.
Éramos inseparáveis. Mais que amigas. Mais que irmãs! Dificilmente terei amado uma amiga como te amo a ti. Sim, o teu lugar permanece ocupado por ti, pela recordação de ti e pela minha culpa em não saber esconder o choque.
Eu explico, para quem não sabe a nossa história. Era uma vez... Não, esta não é uma dessa histórias. Esta é uma história a sério.
Tu eras uma miúda muito inteligente, decidida, teimosa (pelo menos tanto quanto eu), muito senhora do teu nariz. Ninguém acreditaria que um dia seria possível alguém te cilindrar. Tinhas ideias bem fundamentadas e fixas acerca dos grandes assuntos que nos dizem respeito na adolescência: a única concessão que fazias às drogas era o tabaco (ambas fumávamos), não havia um amigo que não pudesse contar contigo para o que desse e o que viesse, compadecias-te em especial dos mais sofredores. Tinhas um sentido de justiça e de lealdade a qualquer prova e acreditavas em todos os direitos: os das crianças, os das mulheres, os dos homens, o da igualdade e que só se poderia fazer o que está certo pois quem escolhe o caminho mais fácil é um fraco que pouco ou nada merece.
Sempre te chamei Paulinha. Na tua família chamavam-te Xana, mas para mim eras Paulinha (ou ‘mor)... Compreende-se porque eu sempre fui enorme e tu pequenita, devíamos ter uns 20 cm de diferença de alturas ou mais.
Eras tu e eu. Éramos nós duas sempre indivisíveis enquanto atravessávamos os anos vividos e os escolares. Se estava uma a outra não poderia andar longe. Escolhemos os nomes dos nossos futuros filhos e prometemos ser as madrinhas de casamento uma da outra. Fizémos juntas (duas vezes) o 9º ano, o 10º e o 11º, com aquela professora de francês horrível que te adorava acima de qualquer outro, lembras-te? Hehehe Por esta altura teríamos, 17 anos? Foi quando os teus pais se separaram. Ele saiu de casa e a tua mãe perdeu a cabeça... e perdeu-te a ti que por causa disso foste morar com ele. Grande erro! Ela, a outra, tinha também um filho pequeno e sentiste-te sempre protelada. Eras tu quem fazia as tarefas domésticas e mantinhas a casa. Foste para longe de mim... O Monte da Caparica era longíssimo para nós mas nunca deixámos de nos telefonar.
Um dia, a novidade: “Deixei a escola. Arranjei trabalho numa loja na Baixa.” Cheguei a ir lá ter contigo, lembras-te? Um cubículozinho cheio de marroquinaria até ao tecto onde te vi feliz. Estavas apaixonada! E por quem? Pelo dono da loja que devia ter uns 20 anos a mais que tu. Mas estavas feliz como não te via há muito tempo e tiveste resposta para todas as minhas dúvidas e perguntas.
Algum tempo depois fizeste os 18 anos.
Mais uns dias e o teu pai bateu-te com um cinto. Foi a última vez. Foi quando comecei a admirar o teu namorado que não permitiu mais essa barbárie e te levou para casa dele.
Oh! Foste muito feliz com ele por uns meses! Via-se na tua cara, no teu olhar... E voltaste para mais perto de mim, estavas agora a morar no Prior Velho, se não me engano. Sabes que a memória nunca foi o meu forte... Fui visitar-te na tua nova casa, mostraste-me, feliz, todas as novas aquisições para o ninho: electrodomésticos, quadros, roupas de casa, etc... Fiquei feliz por te ver feliz, finalmente. Falámos em voltares a falar com a tua mãe, mas ainda havia muita amargura, muita mágoa... E sempre foste orgulhosa, também!
Sim, fiquei feliz, mas também preocupada com outras coisas que me contaste... O divórcio dele que ainda não tinha saído, um filha pouco mais nova que tu, e uma saúde pouco estável num homem de 40 e poucos anos cuja vida passou por muitas borgas e muitos excessos.
Feliz por te ver feliz... Ias tirar a carta, não era? Estavas segura e contente e eu fui para casa com o coração mais leve por ti.
Não durou muito tempo a tua felicidade. Uma noite, um ataque de asma levou-te o amor e tirou-te o tapete debaixo dos pés. Telefonaste-me lavada em lágrimas já depois de tudo ter terminado, depois de teres que ficar a observar impotente enquanto a “legítima mulher” ficava com a tua casa, todas as coisas que vocês compraram juntos, a loja e a vida... Ela vingou-se por ter sido trocada por uma miúda e tu saíste apenas com a tua roupa. Nessa altura eu já estava no Algarve, já tinha entrado para a universidade e fiquei contente quando me disseste que estavas a viver em Albufeira, que uns amigos dele te tinham arranjado emprego e casa cá em baixo.
Na altura eu era capaz de percorrer Faro inteira a pé, mas nunca tinha saído da cidade onde estudava. Albufeira parecia quase inatingível, mas fiz tudo o que podia para ir ter contigo e passámos um dia fantástico juntas. Quem diria que eu viria a morar em Albufeira, não muito longe da loja onde trabalhavas nessa altura?! Ainda hoje sei qual é a rua da loja e sempre que lá passo procuro em vão aquilo que melhor me recordo dela: os quadrados de vidro no chão. Devem ter feito obras. Nessa rua não há nenhuma loja com quadrados de vidro no chão e de resto, todas estas lojas são idênticas: as mesmas t-shirts garridas, a marroquinaria para atrair o turista, os insufláveis à porta...
Foi a última vez que te vi. Se não estou em erro, estávamos em 1995 ou início de 1996.
Estavas magra e deprimida. Achavas que o fantasma dele andava atrás de ti e havia alguém a aproveitar-se dessa tua fragilidade. Não consegui fazer nada por ti e lamento-o. Eras obstinada, sempre foste.
A vida continua.
Perdemos contacto nem sei como. Deixaste de trabalhar na tal loja. Ninguém me soube falar de ti.
Life goes on...
Continuei o curso, mas não por muito mais anos. Não cheguei a acabá-lo, sabias?
Conheci o meu futuro marido. Ias gostar dele. Fazia o “nosso tipo”. Era motoqueiro, independente, forte de corpo e de espírito. Saíamos muito, todas as noites se nos apetecesse! Do dia um de Janeiro de 1999 ele pediu-me em casamento! Oh! Eu estava tão feliz! Falei primeiro com a minha mãe, claro, e ela contou ao meu pai. Nesse dia lembrei-me de ti. Foram os únicos momentos menos felizes desse dia: pensar onde estaria a minha madrinha de casamento. Pensar que teria que escolher outra pessoa!
Meses depois aconteceu o meu grande erro. Aquele pelo qual não me perdoo.
Estávamos, eu e o L, no café onde se reunia a malta toda antes de partir para os bares, devia ser uma sexta-feira ou um sábado à noite. O L tinha-me oferecido um telemóvel algum tempo antes e ele tocou. Pensei que fosse a minha mãe mas não conheci o número. Não conseguia ouvir dentro do café com a barulheira que havia e vim cá para fora. Agora que penso nisso, devíamos estar no início da primavera... estava vento e um pouco de frio.
“Sou eu, a Paula” disseste tu. “Paula? Paulinha?!!” Eu nem queria acreditar! Estava tão feliz por te ouvir! Andavas a arrumar papéis velhos e encontraste o n.º de telefone de casa dos meus pais. Felizmente resolveste ligar e a minha mãe deu-te o meu n.º de telemóvel! Que saudades que eu tenho de ti! Que falta me fazes! Contei-te tudo, resumidamente e disse-te, claro que o “lugar” de madrinha era teu se assim o quisesses. Eu mantenho as minhas promessas.
Depois foi a tua vez... Estavas em Setúbal, não sabias se ias poder ir ao meu casamento por causa do teu marido? Namorado? Não me lembro o que ele era. Temos dois bares, um de praia onde eu estou de dia e outro onde “tenho umas miúdas a alternar”. Foi aqui que cometi o meu grande erro. Foi aqui que te perdi. Eu era demasiado inocente, demasiado púdica, demasiado ignorante e para mim “alternar” e “prostituir” era exactamente a mesma coisa. E até pode ser, mas eu tenho este grande defeito de ser genuína, de não saber fingir ou esconder... e não consegui esconder o choque que estas tuas palavras causaram em mim. Não tive tempo de me explicar, tu percebeste pela minha voz. Explico-te aqui e agora, tantos anos depois... Acho que fiquei menos chocada com o que disseste do que o caminho que te imaginei percorrer até chegares ali. Imaginar que serias tu a “alternar”, tu a sofrer às mãos de homens a indignidade que não suportarias uns anos antes para qualquer outra mulher. A tua frieza quando me disseste que não te enganariam uma segunda vez e que ele poria ou já tinha posto um dos bares no teu nome... A tua insistência naquela expressão “umas miúdas a alternar” para te certificares do que provocavas em mim.
Despedímo-nos alegremente, disseste que ias falar com ele para vires ao meu casamento. Eu queria lá saber dele ou das miúdas ou do raio que o parta! Era muito importante para mim ter-te lá... Era tão importante ver-te lá...
E foi a última vez que ouvi o amado som da tua voz. Tu sabias. Sentiste que eu não estava preparada para esse teu novo mundo. O teu número de telefone nunca mais funcionou. Procurei-te em listas telefónicas, na net e de todas as formas que pude.
Perdi-te.

Procuro-te ainda. Recordo-me de ti no dia do teu aniversário, que foi há tão pouco tempo (no dia 3). Vens-me à mente esporadicamente e sem motivos aparentes várias vezes por mês ou por ano.
Vinha hoje a conduzir e a pensar em ti quando de repente a minha memória desbloqueou aquele primeiro apelido de que não me recordava há anos! Sabíamos os nossos nomes completos de cor... tantos anos passados sentadas lado a lado nas secretárias da escola. Aquele apelido, o da tua mãe que deixaste de escrever quando te zangaste com ela... Ribeiro! É Ribeiro não é?
Ana Cristina Pedro de Pinho
Procura desesperadamente
Paula Alexandra Ribeiro Lopes
Se por um feliz acaso do destino leres isto, o meu número de telemóvel é o mesmo, mas também me podes contactar por e-mail.
Perdi-te.
Não te consigo encontrar.
Por favor, encontra-me!

7 comentários:

Sofia disse...

espero que consigas ter noticias da tua amiga...bjs

fantasma disse...

Quem ficou de lágrimas nos olhos fui eu...
Boa sorte!!

Cenoura disse...

Também me fizeste ficar de olhos molhados.
A Paulinha tem sorte em ter alguém que pense tudo isto dela.
Espero que a consigas encontrar, amiga.

Anónimo disse...

fiquei com um aperto no peito...espero que a tua amiga te encontre...

Anónimo disse...

Também desejo que encontres a tua amiga...
E olha, sabes que podemos ser da mesma família? ;-) Também sou Pinho!!! :-D

Anónimo disse...

Olha, ja contactaste a Cruz Vermelha? Eles têm um departamento especifico para estas situações...nao sei é se ajudam no caso de nao ser familia... Lembrei-me deles porque me andaram a ajudar a encontrar o meu tio na Austrália,e os únicos dados que tinhamos dele na altura eram o nome e uma morada já antiga...
Bem, tentar nao custa! Boa sorte! Beijinhos

Mishka disse...

Muito e muito obrigada a todas pelas palavras carinhosas e de apoio. Sabem muito bem! :)

Filipa: Se calhar até somos... Não conheço nenhuma Filipa na minha família, mas também não conheço a minha família toda! És de onde? Maila-me! :D

Psyche: A sério? Vou já pesquisar! Obrigada!!!